JULGAMENTO (Raymundo Asfora)


Crônica escrita por
 Raymundo Asfora.
Diário da Borborema

Está aberta a sessão. 

A voz do juiz, grave e solene, impõe silêncio às galerias. Uma atmosfera de profunda tensão emocional pesa sobre o ambiente. 

Entre dois guardas, no banco dos réus, um homem espera julgamento. É acusado da autoria de um crime de homicídio. 

O quadro é de uma quase rotina nas reuniões periódicas do Júri Popular. Mas, dessa vez, há um detalhe que torna a cena um pouco diferente. 

Você, leitor, está no plenário, porém não como um simples expectador. Nesse instante, uma toga envolve o seu ombro. Você é um dos membros do Conselho de Sentença. 

E vai julgar o réu – autor de um crime de morte que voltou a confessar, no interrogatório perante o júri. 

O fato abalou a cidade; a população aguarda, ansiosamente o veredito. 

A vítima - esposa e mãe – foi assassinada pelo próprio marido. 

O casal vivia em uma casinha, em um bairro da cidade, e era um modelo de paz. O esposo, homem de sessenta anos, estava aposentado do serviço público. A mulher, um pouco mais velha, tinha um câncer, e fazia um ano que suportava os mais atrozes sofrimentos. O marido tratava-a carinhosamente. De noite, descansava em uma cadeira ao pé do seu leito, para vigiá-la e socorrê-la, quando acometida de espasmos mais agudos. Ela, por diversas vezes, havia tentado o suicídio. Primeiro com um revolver que o esposo arrebatou-lhe das mãos; depois querendo envenenar-se ingerindo um porção de gás. Na noite dos fatos, as torturas físicas foram maiores que as de costume. O marido assistiu, durante várias horas, o doloroso espetáculo. 

Não resistindo mais – não suportando mais assistir à tragédia – pegou o revolver e disparou três tiros na cabeça da mulher. A morte foi instantânea. 

Permaneceu, longamente, ao lado do cadáver e, ao amanhecer, foi entregar-se na Delegacia de Polícia. 

A versão da ocorrência não foi contestada por ninguém. Acusação e defesa aceitaram-na, como expressão da verdade. O Promotor, todavia, pede a condenação do réu. Sustenta que o Direito tutela a vida e a ninguém é lícito destruí-la, mesmo movido por um sentimento de piedade. 

Leitor – chegou a sua vez de votar. Em nome da lei e fiel aos ditames da Justiça. Chegou a vez de você proferir o seu julgamento. 

Culpado ou inocente?

Raymundo Asfora

Crônica publicada no Diário da Borborema.