Daltonismo Político

O atual clima de partidarismo nos debates nacionais é algo realmente impressionante, pessoas que nunca falavam sobre política passaram a opinar, dar sentenças nas mais diversas áreas e marcar posição nas redes sociais e nos espaços de convívio coletivo.

É interessante notar o grau de radicalização nesses “diálogos”, pois pouco resta de moderado. A pessoa logo é taxada de comunista, se defender um Estado mais presente na vida da população, ou é chamado de retrógrado, conservador e reacionário, se defender um Estado menos intervencionista.

É raro você encontrar alguém que consiga enxergar acertos e erros em ambas as posições. Estamos numa época do tudo ou nada. Surgiu do PT? É lixo! É do PSDB? Não presta! As ideias em si parecem ter pouco valor, o pessoal se posiciona mais segundo a origem.

Pintaram os projetos de verde e amarelo ou de vermelho, ignorando que existem boas ideias no arco-íris inteiro. O daltonismo político tem promovido uma geração intolerante e radical, onde a política muitas vezes se assemelha a torcida por um time de futebol. Não importa se o técnico é ruim, se a folha de pagamento tá atrasada, se gastam muito para ter pouco retorno ou não respeitam a torcida; defende-se um “escudo” e pronto. A política virou paixão nacional.

O grande problema dessa concepção é que, como acontece com quase toda paixão, muitas vezes só percebemos os erros cometidos com o passar do tempo, quando o sentimento esfria e já fica tarde para reparar os danos.

"Lá vem o Sol colorindo/ O resto da madrugada."


Há exatos dois anos, no Facebook, o tribuno e ex-prefeito Félix Araújo Filho glosava um mote de minha autoria. Segue abaixo o resultado do desafio:

"Um mote para o amigo Felix Araujo Filho: "Lá vem o Sol colorindo/ O resto da madrugada"

Raymundo Asfora Neto - (pelo nome já se sabe) que é da prosa e é do verso - manda-me um mote primoroso. Sem ser capaz de glosar à altura, atrevo-me, então, dizendo:

...................................................
Estrelas! Tanto as amei.
E as beijei em noites claras.
Belas musas e tão raras,
Cintilantes encontrei.
De bar em bar, eu cruzei
Minha noturna jornada
Abraçado à namorada
Para enfim dizer sorrindo:
"Lá vem o Sol colorindo
O resto da madrugada".
..................................................
(Félix Araújo Filho)"

O grande projeto e o pequeno compromisso

Imagine Campina Grande rodeada por mananciais que formassem um grande cinturão de água ao redor da cidade. Pois é, o projeto existe e até começou a ser executado – minimamente, mas foi; trata-se do Multilagos, idealizado nos anos 90 pelo grande arquiteto e engenheiro Geraldino Duda, o mesmo que projetou o Teatro Municipal e a praça Clementino Procópio, dentre várias outras importantes obras para a Rainha da Borborema. Por que pouco ou quase ouvimos falar dessa brilhante iniciativa? 

Projeto Multilagos
O Multilagos seria composto por 15 açudes ao redor da cidade – o primeiro deles já existe, é o “Zé Rodrigues”, em Galante –, fortalecendo a nossa agricultura, trazendo maior segurança hídrica e promovendo um singular espaço para o fortalecimento do lazer e do turismo em Campina. É um projeto de encher os olhos e de dar água na boca!

Todavia, em que pese as três décadas de sua concepção, o mesmo permanece estagnado. Por sua dimensão e complexidade, os gestores que passaram pela cidade, e também pelo Estado, não mostraram entusiasmo pela sua execução. A obra, que tem a dimensão dos sonhos de Campina, não cabe em apenas uma gestão e isso acaba por “esfriar” o olhar político sobre ela. E a população paga um preço alto pela pequenez política...

Hoje, prestes a receber as águas do Rio São Francisco, a ansiedade pela qual passamos poderia ser bem menor; poderíamos ter mais tempo para esperar pela redentora obra da transposição e sermos poupados de tantos dias de racionamento, bastaria termos feito o dever de casa e realizado o Multilagos ou, ao menos, parte expressiva dele.

Também de dimensão colossal, temos o Complexo Aluízio Campos, que contempla o setor habitacional, industrial e logístico da cidade. A fase das moradias já está bem avançada e deve ser entregue dentro de um ano, mas as demais carecem de maior tempo para se consolidar e gerar os frutos que todos os filhos da Capital do Trabalho esperam dela. 

Projetos dessa envergadura são, quando executados, presentes que valorizam o passado e cuidam do futuro, não cabem em um só tempo. Que lembremos sempre à classe política: fiquem atentos, pois, quem deles cuidam, costuma receber destaque na eternidade, já que maior do que a obra em si é a grandeza de espírito de quem deixa a contribuição possível para o tempo que lhe é dado.

Das voltas que o mundo dá

Estou tirando a poeira de cima da disposição e sacudindo a coragem para voltar a expor um pouco do que penso por aqui. O AsforaBlog vem desde 2006. 11 anos! É verdade que desde 2013 não o atualizo, mas nunca deixei, nem por um ano sequer, de reler e compartilhar as reflexões que haviam lapidado o meu tempo. O conservei até aqui não apenas para guardar lembranças, mas porque sabia e sentia que voltaria a continuar essa construção. Pois é, e agora estou de volta.

Buscarei não me prender a um tema ou estilo único, passearei, como sempre o fiz, pela poesia, críticas aos eventos cotidianos, curiosidades históricas, vídeos, reflexões existenciais, etc. Acredito que as coisas vão ficar mais movimentadas, pois vivemos tempos de intensos debates e de ampla interação. Isso é bom. Espero aprender bastante, evoluir. E que o respeito sempre nos acompanhe.

Aos que tiverem a paciência e o interesse de seguir conosco, faço um apelo para que não se restrinjam à passividade da leitura ou da crítica emudecida, participem e me ajudem a moldar minhas concepções. Quero e preciso ser influenciado por vocês. Parafraseando meu avô Asfora, libertarei no blog as palavras prisioneiras do coração.

O compromisso é pela atualização semanal. Quem tiver o interesse em receber as postagens, assim que forem postadas, pode cadastrar o seu e-mail na barra lateral à esquerda. Sejam bem-vindos! Espero não me perder na volta...

Emprego e busca

A busca por emprego e renda é uma constante na vida de cada cidadão brasileiro. Qualificação e experiência são as muralhas mais conhecidas que separam o trabalhador de sua oportunidade de trabalho. Ambas são importantes e se complementam, mas a iniciativa de procurar um espaço é também indispensável.

Vemos todos os dias pessoas e mais pessoas se qualificando. São cursos de inglês, informática, espanhol, etc. Todavia, na hora de ser inserido no mercado de trabalho, o cidadão parece aguardar que as suas habilidades, recém adquiridas, venham a ser reconhecidas e passem a convoca-lo para as mais diversas empresas. Não é bem assim que a coisa funciona.

Cabe, na maioria das vezes, ao próprio trabalhador a iniciativa de correr atrás de uma oportunidade. Seja através da entrega de currículos diretamente as empresas ou por meio de serviços como o Sistema Nacional de Emprego.  Não adianta se qualificar e se esconder, é preciso tomar a iniciativa de divulgar os seus atributos e ser persistente.

Experiência se adquire com o tempo e, no caso do primeiro emprego, com um pouco de sacrifício e uma pitada de sorte. Importante ressaltar, entretanto, o que diria o velho Einstein: “toda vez que a sorte batia em minha porta, eu estava trabalhando”. Percebe-se que a permanente qualificação é primordial, mas deve ser acompanhada de uma busca incansável por oportunidades. Se qualifique e procure quem está querendo quadros qualificados.

A verdade é que, se não tornar público o seu potencial, de pouco valerá falar vários idiomas. No máximo, teremos um pedinte poliglota. Anuncie-se!

A majestade da Rainha e os seus filhos











O lançamento de grandes centros comerciais, como os recentes anúncios de shopping centers, mexem com o brio do cidadão campinense, fazendo com que sintamos ainda mais orgulho dos destinos da nossa Rainha da Borborema. Mas, em meio a tanto alvoroço, um questionamento me chamou a atenção: qual a relação que esses anúncios podem ter com a especulação no mercado imobiliário na cidade?

Pode ser coincidência, mas acende o sinal amarelo o fato de que por trás de vários desses anúncios estão os empreendedores da terra que possuem terrenos e construções próximas aos referidos “sonhos de consumo”.

Não há nada de mal em investir próximo as propriedades que se possui, afinal, agregar valor é uma lógica de mercado. Mas, e se os anúncios não passarem de uma boa jogada publicitária visando a imediata valorização das terras nos arredores? E se, de fato, apenas utilizarem os anseios de nosso povo para produzir mais riquezas para poucos?

Que Campina é uma cidade vaidosa não é novidade para ninguém. Acho até que isso lhe rende bons frutos, motivando a ousadia e a inventividade do nosso povo. Todavia, é preciso certa dose de compromisso nesses impulsos, pois os mesmos não podem ultrapassar a barreira da responsabilidade ética e social.

Portanto, diante do grande número de empreendimentos anunciados aos quatro cantos, não custa nada nutrir essa reflexão. Que a nossa Rainha amplie sua majestade e que o seu povo comemore conjuntamente os frutos desse reinado, sem ilusões ou jogadas rasteiras; do contrário, teríamos filhos explorando a própria mãe – sendo que esta ainda carrega nos braços muitos dos seus irmãos. 

Deficiência moral


Colocar-se no lugar dos outros é, indubitavelmente, a melhor maneira de evitar que cometamos injustiças. Esta máxima é também um princípio que deveria ser observado por todos nós. Digo isso porque é lamentável vê-la em desuso por algumas pessoas, como pude presenciar dia desses em um grande supermercado de nossa cidade.

No caixa reservado para gestantes, idosos e deficientes, um indivíduo, na faixa dos 35 anos e com saúde visivelmente boa, resolveu entrar na fila de quem deveria ter prioridade. O resultado é que um senhor, aparentemente em torno dos 70 anos, se postou logo atrás dele. Foi o suficiente para a caixa do supermercado alertar ao intruso que aquele atendimento era exclusivo para as pessoas especificadas na placa afixada logo acima de onde estava.

Na defensiva, o referido indivíduo foi logo afirmando em tom de ironia: “você sabe se eu não tenho nenhuma deficiência? - olhou para o senhor logo atrás e disparou – este senhor tem muito mais disposição do que eu!”. Diante do constrangimento, o homem de cabelos brancos apenas deu um sorriso tímido, como quem busca evitar de qualquer modo maior embaraço.

Logo começou um bate-boca, onde a caixa solicitou ao insensível cidadão que apresentasse algum documento que justificasse aquela prioridade no atendimento. Nada feito. O gerente foi chamado e mandou que se atendesse, logo, o “cliente de tempos”. Enquanto isso, a atendente, resignada, sussurrou: “já a segunda vez que ele faz isso”.

Diante do fato, pensei: o “penetra” talvez tivesse razão, ele possui, de fato, uma deficiência diagnosticada apenas pela observação de sua conduta. A sua deficiência é de caráter...